As mãos frias tocando meu rosto. Essa é a primeira lembrança nítida de você que eu consigo guardar. Suas mãos sempre me pareceram compridas demais, pálidas demais, geladas como a própria morte. E quem sabe não era realmente isso? Possessão, disseram. Mas acho que o que aconteceu entre mim e você foi muito maior do que a simples habitação do corpo alheio.
Quando depositei meus temores naquele diário eu procurava uma forma de poder extravasar todo o ressentimento e o temor que se instalaram em meu íntimo. Mas o que beirou aquelas páginas amaldiçoadas foi o seu nome. Tom Riddle. E, de alguma forma, este passou a ser o som que brotava nos meus lábios quando nada mais importava na minha vida.
Você me entendia, você julgava que meus medos eram reais e que eu estava certa em jamais ter mencionado nada disso para ninguém. Você me falou que Hogwarts era grande e que provavelmente eu passaria alguns dias imersa em fascínio, mas que isso logo passaria. Passaria porque eu ainda não tinha uma noção exata do que tudo isso significava.
E eu confiei. Confiei em suas palavras, confiei em seus julgamentos. Eu acreditei que o que você falava era real e que não havia outra forma de me libertar, a não ser deixar você agir. Então, emprestei meu corpo para seus desígnios.
No início, quando suas mãos se aproximaram do meu peito, eu senti um leve desconforto. Afinal, seu toque não passava de uma sensação. Pensei que você era o mais parecido com um sonho: sua forma brilhava levemente. Como um anjo, pensei. E por muitos instantes eu acreditei que você era um anjo, que você viera para me ajudar. Mas você era um anjo decaído, apagado e esquecido.
Sim, esquecido. Você mesmo quisera esquecer; você fez com que Tom Riddle não existisse mais. Não era você que eles temiam, não o garoto que estava na minha frente naquele momento. Não que eu soubesse disso quando você aproximou os lábios do meu pescoço. Naquele momento você era meu desejo mais profundo, era a chave para que eu não mais precisasse temer.
Enganei-me. Mas, naquele instante, nada disso importou. Eu estava em suas mãos; não apenas meu corpo, mas minhas vontades e minha alma. E eu não lembro de nada que fiz. Acordei na manhã seguinte no meu quarto, na minha cama, como se tudo não tivesse passado de minha imaginação. Quando toquei embaixo do meu travesseiro senti o diário e passei a entender que algo novo estava prestes a acontecer.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Possessão
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Um comentário:
Tom deveria ter, de forma encantadora, um poder de persuasão descomunal. Com certeza Ginny deve ter se sentido mais que igual a ele, sentido além de apenas um diário preso a uma lembrança. Deve ter corrido um sentimento que ele deixou que ela sentisse para conseguir usá-la, mesmo que fosse uma tentativa de fazê-la apaixonar-se por ele ou pensar que ele era melhor que Harry. Tudo isso para um único fim malévolo.
E eu epero que isso seja uma fic nova...!
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